Pular para o conteúdo principal

Descarado deboche




   O país assistiu com um misto de incredulidade e desanimo ao anúncio do cancelamento do já outrora adiado, Censo Demográfico Brasileiro. Este inestimável estudo nacional, organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, foi instituído legalmente através do decreto lei Nº 24609 de 29 de março de 1936, e previa a aplicação de questionários de pesquisa em todos os Lares brasileiros no intervalo de dez em dez anos, cujo objetivo e traçar um perfil socioeconômico do país.

   Em 2020, o Governo Federal utilizou a COVID 19 como argumento para a não aplicação dos questionários, posto que, o orçamento daquele ano previa um gasto de 2,3 bilhões com esta atividade. Como não realizou no ano passado, o ministério do planejamento junto com seu congênere da economia, que são os responsáveis da elaboração da peça orçamentaria, que será enviada ao legislativo para aprovação e assim possa ser aplicada no ano seguinte.

    Pode parecer aos menos avisados uma atividade não essencial na governança. Pode também os irresponsáveis e não comprometidos com a grandeza nacional rejeitarem sua importância. Para quem pensa e tem compromisso com cada tostão arrecadado do povo, não pensa e nem pode aceitar, que não tenhamos pesquisa de todo tipo e maneira que orientem as políticas públicas, que deem norte a repartição das receitas tributárias nesta república federativa.

   O que salta aos olhos nesta questão é como serão gastos estes recursos, segundo dados do próprio instituto, que no mês passado cancelou o processo seletivo para a contratação de 17 mil agentes censitários e 182 mil recenseadores para trabalharem na coleta e catalogação dos dados. Como exposto acima, nossa classe política está mais interessada em oferecer o peixe e não a vara de pescar. Por que pagar auxílio que vicia e humilha e não dá ocupação legal e dignidade para tantos. Estes recursos poriam a máquina econômica em funcionamento.

   O Brasil começou a coletar os dados demográficos no longínquo ano de 1872, ainda no império e logo após o fim da guerra do Paraguai, quando o levantamento indicou a existência de exatos 10 milhões de habitantes, destes, quase 85% eram analfabetos. É senso comum que após estes levantamentos iniciais, tenha se buscado o embranquecimento, com o estímulo a migração de Europeus. Foi, entretanto, a partir de 1940, com o IBGE, que estes estudos tiveram maior relevância e aproveitamento.

   Baseado em números dos sucessivos recenseamentos que o País pôs fim a política do café com leite e deixou de ser uma imensa fazenda, com os interesses oligárquicos colocados acima da brasilidade, estes mesmos dados nortearam Juscelino Kubitschek a impulsionar a indústria automobilística, fazendo surgir um país industrializado e moderno no cenário internacional.

   Este simulacro de Governo não está apenas impossibilitando a feitura do levantamento censitário, está por consequência impedindo, que após dez anos, e com a mais temível pandemia a nos acossar, saibamos quantos somos, o que possuímos, qual nossa renda, nosso grau de instrução formal, que etnias temos e gêneros humanos etc...etc. Coisa que nenhum Governante da República, nem mesmo os ditadores-1964 a 1985, teve a desfaçatez de fazer. Neste fazer, impede a nação de beber da fonte do conhecimento produzido pela pesquisa.

   Um País classificado entre as dez maiores economias do mundo. Uma nação respeitada por dominar diversas tecnologias e conhecimentos, não pode e nem dará certo, dirigida por achismos, precisamos mais do que nunca dos holofotes do conhecimento e da ciência para guiarem a um preço mais vantajoso, todas as ações governamentais ou não. O que pretende Bolsonaro, além de organizar live cancelando CPF? Alguém próximo dele poderia, a bem do Brasil, lembrá-lo da existência do aforismo mais conhecido do planeta, cunhado na entrada do templo do deus Apolo, em Delfos, Conhece-te a te mesmo, ó pátria amada.


*Poeta, Compositor e Produtor Cultural.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CADÊ OS ALUNOS QUE ESTAVAM AQUI?

   Fazendo uma breve leitura sobre os dados da educação pública de Bacabal, verifica-se que são geridas pela rede municipal 114 escolas; percebe-se ainda que, no intervalo de cinco anos, 2013 a 2017, houve aumento em investimentos por aluno e consequente aumento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDB, tendo os anos iniciais (1º ao 5º ano) alcançado a média 5,1 e os anos finais (6º ao 9º ano) atingido 4,1, em 2017. Isso é positivo! Precisa melhorar, mas significa avanços.    Um dado, no entanto, chama a atenção quando se lê o gráfico Evolução no número de matrículas X despesas totais em educação, postado no site meumunicípio.org.br, no qual no período de 2013 a 2017, cerca de 2020 matrículas (alunos) são diminuídas ano a ano.     Em 2013 eram 19.919 matrículas, no ano seguinte, 922 alunos ficaram fora dessa contagem e a matrícula caiu para 18.997 alunos no ano de 2014; em 2015, cerca de 243 alunos desaparecem e a matricula nes...

Faces da Política na Terra de Raimundo Sérgio

Confundiram, mentiram, aplaudiram, comemoraram, esfriaram. Dois lados, ninguém ao lado do povo! A população segue seu ritmo, de um ou de outro lado. Coitado do homem massacrado, espoliado pela política dos políticos e seus lados que negam o lado do povo. Enquanto isso: mata-se nos bares, morre-se nos hospitais; salários continuam atrasados, renda não é prioridade; insegurança no banco da praça e no pátio da escola; bem estar não é social, os coletivos andam sozinhos; verba de contingência nega um auxílio, as fotos estampam doações particulares; tratamento para o câncer só na propaganda do outubro rosa, vem aí o novembro azul... janeiro branco; oknenhum tomógrafo (?); Idoso abandonado, mas há festas para idosos; água é privilégio de poucos, e o rio agoniza em dejetos e poluição; o dinheiro público muda o curso das penas, apenados da vida catam lixo nos bolsões da pobreza distante dos olhos; ambiente poluído, seco, destruído, em minutos começam as queimadas; nos senadinhos a polít...

AS MULHERES POR CIMA:

APONTAMENTOS SOBRE A IDEIA DE DESREGRAMENTO FEMININO NO INÍCIO DA EUROPA MODERNA E A INVERSÃO SEXUAL COMO MODO DE RESISTÊNCIA    Bartolomeu dos Santos Costa    Natalie Zemon Davis é uma historiadora estadunidense e canadense, nascida na cidade de Detroit, no estado de Michigan, Estados Unidos. Após ter realizado a sua gradua ção no Smith College e o seu mestrado no Radcliffe College, no ano de 1959, ela conclui seu doutoramento na Universidade de Michigan, estudou também na Universidade de Harvard. Foi professora em diferentes universidades como a Universidade de Princeton, a Universidade Brown, a Universidade da Califórnia e a Universidade de Toronto. Suas pesquisas, enquanto historiadora, incluem trabalhos importantes como Trickster Travels3, The Gift in Sixteenth-Century France The Return of Martin Guerre5 e Women on the Margins: Three Seventeenth-Century Lives. Davis recebeu diversos prêmios e reconhecimentos como o grau honorário da Universidade de St. Andrews e...