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Bobos e Iludidos


 Renato Dionisio* 

Saudações luminosas...

   A cultura humana, ou de um determinado povo, somente se eterniza, pela utilização permanente dos meios a sua disposição, tais como a escrita, os costumes, as artes e tudo mais que possa transcender o espaço temporal, aliás, é este feixe de ações materiais ou imateriais que comumente chamamos História. Portanto, a conservação e proteção destes bens, são em última análise, a defesa da preservação das ações humanas até nós e seu efetivo aproveitamento pelos que adiante virão. 

   A queima da biblioteca de Alexandria, na antiguidade. A incineração de incontáveis títulos, literários ou científicos, durante o terrível período da inquisição. O incêndio, criminoso ou não, do Museu Nacional, no Rio de Janeiro que dispunha de incontáveis documentos atestadores da saga e da luta de nosso povo. Juntos, ou cada um, representaram um ataque à civilização, ainda bem que estes tesouros, encontraram defensores de suas restaurações, posto que assim, continuaram a preencher o conhecimento e os sonhos de tantos. 

   A defesa destes maravilhosos inventos humanos é parte definidora de nossa racionalidade. Defender o Centro Histórico de São Luís, o Museu do Ipiranga a Catedral da Sé ou o Jornal Diário de Pernambuco, o jornal mais antigo do mundo em língua portuguesa, com tudo que eles representam de valores para nosso tempo ou contributo para a eternidade, é acima de tudo, um ato de viva e pujante inteligência. Não cabe falar de interesses: a Igreja tem os seus, os humanistas os seus, assim como também o jornal, os interesses são temporais o legado não, e isto é o que importa. 

   Causa-me um misto de comichão e desprezo, quando vejo nas redes sociais o ataque que o presidente, lamentavelmente meu também, Bolsonaro, faz à Rede Globo de Televisão, pregando o seu fim: vou acabar com a Globo. Também tenho profundas diferenças com esta organização, somente as coloco, como de fato estão, no plano temporal, não quero seu aniquilamento, sua queima, pelo que já produziu ou poderá produzir em nome da civilidade. 

    Não estou defendendo, até porque não tenho estes poderes, que o governo faça negócios com aquele conglomerado, sei inclusive que não os faz. Ver seus seguidores, em sua absoluta maioria, sem noção destes conceitos e valores, espumarem nas ruas, se mijarem de prazer, diante destas afirmativas, fico pensando como estão iludidos e enganados. 

   Foguetes são tocados pelo fato da nave platinada, após a queda do interesse dos brasileiros pelo automobilismo, não comprar as transmissões de corridas. Por desejar o fortalecimento de seu canal esportivo Globo Esporte na televisão fechada, deixar o campeonato nacional. Explorar novos filmes na nova ferramenta do Netflix. Não renovar contratos com velhos ídolos a busca de novos e mais baratos talentos. Dizem e festejam: quebrou. Cada estratégia desta representa a busca por globalização através de novas e competentes ferramentas, e neste sentido, queiram ou não os aloprados, a globo está na dianteira. 

   Vou ousar em lhe perguntar: Qual o maior e mais significativo museu audiovisual deste País? Dez em cada dez brasileiros, medianamente bem-informado, sem pestanejar, responderão ser a Rede Globo, com tudo que ela representa em milhares de horas de gravação que vão das novelas a documentários atestadores do modo de ser, pensar e agir nestas terras Brasilis. 

   É representativo registrar que esta emissora mandou ao ar em 1969 o Jornal Nacional, que permanece até hoje. Lembrar que em 1970, na copa do México, vencida pelo Brasil, tivemos a primeira transmissão intercontinental. Que Meu Primeiro Baile, primeiro programa totalmente rodado a cores é de 1973, mesmo ano em que o fantástico, está primorosa resenha noticiosa foi ao ar, e meio século depois domina este horário de transmissão. Que embora seja passado, lá estão guardadas as imagens da Revolução dos Cravos ocorrida em Portugal. Como mostrado, não dá para desconhecer tamanho legado, ou dá? 

   Os jornais escritos, na tentativa de fidelizar seus leitores, travam uma titânica luta contra as chamadas mídias sociais. As salas de cinema são cada vez menos numerosas, estão sendo trocadas pelo Netflix, Now, Globo Play e Amazon Prime. Conectar o mundo físico ao tecnológico- o offline ao online,- para facilitar o dia a dia das pessoas ao redor do mundo é o objetivo da internet das coisas (Internet of Things) e neste particularíssimo sentido, queiram ou não, a Globo está na dianteira em relação a estas ferramentas que moldaram o próximo século. 


*Poeta, Compositor e Produtor Cultural.

Texto publicado original no Jornal O Imparcial, desta sexta, 14/05/21, autorizada a sua postagem nesse blog, pelo autor.


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