Memória
Leonardo Boff:
Em memória dos mortos de Santa Maria
Segunda-feira, 28 de janeiro de 2013 - 12h58min
por http://leonardoboff.wordpress.com
Os antigos já diziam: "vivere navigare
est" quer dizer, "viver é fazer uma viagem", curta para alguns,
longa para outros. Toda viagem comporta riscos, temores e esperanças. Mas o
barco é sempre atraído por um porto que o espera lá no outro lado.
Parte o barco mar adentro. Os familiares e amigos
da praia acenam e o acompanham. E ele vai lentamente se distanciando. No começo
é bem visível. Mas na medida em que segue seu rumo parece aos olhos cada vez
menor. No fim é apenas um ponto. Um pouco mais e mais um pouco desaparece no
horizonte. Todos dizem: Pronto! Partiu!
Não foi tragado pelo mar. Ele está lá, embora não
seja mais visível. E segue seu rumo.
O barco não foi feito para ficar ancorado e seguro
na praia. Mas para navegar, enfrentar ondas, vencê-las e chegar ao destino.
Os que ficaram na praia não rezam: Senhor, livra-os
das ondas perigosas, mas dê-lhe, Senhor, coragem para enfrenta-las e ser mais
forte que elas.
O importante é saber que do outro lado há um porto
seguro. Ele está sendo esperado. O barco está se aproximando. No começo é
apenas um ponto levemente acima do mar. Na medida em que se aproxima é visto cada
vez maior. E quando chega, é admirado em toda a sua dimensão.
Os do porto dizem: Pronto! Chegou! E vão ao
encontro do passageiro, o abraçam e o beijam. E se alegram porque fez uma
travessia feliz. Não perguntam pelos temores que teve nem pelos riscos que
quase o afogaram. O importante é que chegou apesar de todas as aflições. Chegou
ao porto feliz.
Assim é com todos os que morrem. O decisivo não é
sob que condições partiram e saíram deste mar da vida, mas como chegaram e o
fato de que finalmente chegaram. E quando chegam, caem, bem-aventurados, nos
braços de Deus-Pai-e-Mãe de infinita bondade para o abraço infinito da paz. Ele
os esperava com sacudades, pois são seus filhos e filhas queridos navegando
fora de casa.
Tudo passou. Já não precisam mais navegar,
enfrentar ondas e vencê-las. Alegram-se por estarem em casa, no Reino da vida
sem fim. E assim viverão para sempre pelos séculos dos séculos.
(Em memória dolorida e esperançosa dos jovens
mortos em Santa Maria na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013).
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