Recebi, via e-mail, a análise sobre a Copa do Mundo 2014 e a dividi em três postagens, com o mesmo título: COPA DO MUNDO 2014, ILEGÍTIMA: elitista, privatista e antipopular.
A análise da Conjuntura da Semana é uma (re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT com sede em Curitiba-PR e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.
Comitês Populares da Copa: Resistência e potência
Os Comitês Populares da Copaforam o embrião daquilo que depois se viu nas ruas. Foram eles que alertaram para os desmandos na organização do evento. Chamaram a atenção para a ingerência de fora para dentro com a Lei Geral da Copa, as violações de direitos, as remoções indevidas, o uso exorbitante e sem consulta popular do dinheiro público, entre outros.
Em todas as cidades que sediarão os jogos da Copa do Mundo - Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo – foram formados Comitês Populares da Copa.
Em junho desse ano, alguns dias antes de explodirem as manifestações de rua, a revista IHU On-Line produziu um número exclusivo sobre a Copa do Mundo. A revista intitulada Copa do Mundo. Para quem e para quê? entrevistou vários estudiosos e integrantes dos Comitês Populares da Copa.
Uma leitura atenta da revista permite a compreensão do que se viu dias depois nas ruas de todo o Brasil. A tarefa dos Comitês, na opinião da arquiteta e urbanista Claudia Favaro, integrante do Comitê Popular de Porto Alegre e entrevistada pela IHU On-Line tem sido a de "monitorar os gastos e ser um agente mobilizador da sociedade para garantir que os direitos humanos não sejam violados”, uma vez que todos os megaeventos trazem "impactos muito característicos que ocorrem em função dessas violações pela necessidade de reestruturação urbana”. Assim, "a proposta do comitê é articular os atingidos, monitorar as violações e dar voz aos mais variados setores, principalmente os mais vulneráveis”. Os Comitês gestaram o início da resistência aos equívocos na organização do Mundial.
Na opinião de Julia Ávila Franzoni, integrante do Comitê de Curitiba, assessora da Organização Terra de Direitos e também entrevistada pela revista IHU On Line, a principal contribuição dos Comitês foi o da "produção de um contradiscurso que discute os megaeventos nos marcos do seu modelo de desenvolvimento violador dos direitos humanos”.
Na origem dos Comitês Populares da Copa e durante sua articulação foi lançado, em 2011 um Dossiê intitulado ‘Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil’. O dossiê foi entregue aos governos e prefeituras das doze cidades-sede da Copa, e para outros órgãos municipais, estaduais, federais e internacionais. Nele estão presentes as denúncias que irão aflorar posteriormente nas manifestações:
-Moradia: despejos arbitrários e remoções inteiras em processos ilegais de desapropriação para as obras da Copa;
-Trabalho: as greves e paralisações são resultados de baixos salários, más-condições de trabalho e superexploração da mão de obra em função de atrasos e cronogramas apertados;
-Acesso à Informação, Participação e Representação Popular: criação de instâncias paralelas de poder, que estão isentas de qualquer controle social;
-Meio ambiente: facilitação de licitações ambientes para obras;
-Mobilidade: expulsão das famílias mais pobres das áreas centrais e valorizadas e investimentos em transporte e mobilidade urbana sem considerar prioritariamente as demandas da população;
-Acesso a Serviços e Bens Públicos: diante da resistência dos moradores, prefeituras cortam serviços públicos de comunidades em processo de remoção;
-Segurança Pública: perspectiva de militarização das cidades durante os megaeventos;
-Elitização, ‘Europeização’ e Privatização do Futebol: fim dos setores populares nos estádios e aumento dos preços dos ingressos;
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