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A POESIA DA CURVA E DO CONCRETO




Há pessoas em que as obras falam mais alto,
infinitamente mais alto e com maior eloqüência,
do que as palavras, por mais que estas se multipliquem.
Evidente que me refiro ao já saudoso Oscar Niemeyer!
Que dizer diante de suas curvas de ferro e cimento?
O que acrescentar ao seu desenho belo e harmonioso?
Como falar dessa imensa floresta de edifícios e arcos,
farta e profusamente espalhada por tantos países?
Como classificar um estilo tão novo quanto inusitado?

Talvez a necessidade de sublinhar a poesia do concreto,
mas de um concreto com a curva da sensualidade,
tal como o universo, a natureza e o corpo humano.
O alerta profético para a transparência incondicional,
do vidro e dos espelhos de água que marcam os edifícios
destinados a abrigar os debates políticos diante do povo,
tão bem simbolizada na praça dos três poderes, em Brasília:
poder é serviço à população não domínio sobre ela!

Quem sabe a fúria incontida de fugir às angulosidades da vida,
às protuberâncias fálicas que penetram e ferem, mutilam e matam...
E instituir a curva como ponte entre os laços humanos
e destes com as coisas, as plantas, os animais e o ritmo do tempo...
De substituir a exploração, colonização e agressão
pela convivência e o cuidado com todas as formas de vida,
o “viver bem” do consumo sem freios, do luxo e desperdício,
pelo “bem viver” da harmonia entre seres vivos e coisas.

Ou ainda a arte de mudar a si mesmo ao manusear o concreto:
quem é capaz de manipular a matéria e a pedra, o ferro e o aço,
também se revela capaz de forjar um espírito novo para a existência.
Quem tem o poder de fazer falar o concreto, surdo e mudo,
adquire a sabedoria de transfigurar a própria vida e prolongá-la,
até exaurir todo perfume, toda energia e todo calor
de um coração que pulsa e ama, ri e chora, luta e sonha.

Mas o melhor mesmo é o silêncio respeitoso e reverente,
diante do homem e de sua obra, vasta, rara e inconfundível:
ele e ela falam por si só, num segredo tão silencioso quanto eloquente.
A reverência a ambos, numa contemplação muda e extasiada,
permanece, quiçá, a melhor homenagem arquitetural
diante de um protagonista que parte e de uma memória que fica.

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
São Paulo, 06 de dezembro de 2012

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