Liduina Tavares* Quando eu era o negro esquecido na senzala ao tronco acorrentado, o corpo chicoteado só a mim e aos meus irmãos essa dor incomodava. I Quando eu era o negro na Casa Grande explorado escravizado e bullynado muitas vezes estuprado só a mim e aos meus irmãos a nossa dor incomodava. II Quando ainda criança eu fui o negro sequestrado o Estado não interveio a mim nenhum valor era dado e todo o meu sofrimento só a mim e aos meus irmãos a indiferença à nossa dor incomodava. III Para o Quilombo dos Palmares quando aos quinze anos voltei mostrei aos meus irmãos todo o flagelo que passei soube de todo o sofrimento que os meus irmãos tinham passado. IV E, por isso, considerei mudar a essência da dor transformá-la em ação não bastava sublimar o rancor, a indignação o ódio endurecia a alma e sangrava o coração. V Eu mostrei aos meus irmãos que o tronco e as c...
No contraste nítido do tijolo nu e a alta parede revestida de massa, pintada de tinta cuja nuance de cor é feita em laboratório à escolha, em catálogo, um brilho surge, superando a barreira arquitetônica que impede a visão total do reluzente astro iluminado . Por segundos, a imagem é confundida com a luz das lâmpadas de led recentemente colocadas nos postes da cidade, as quais muitas vezes não são vistas em sua totalidade por aparecerem por entre o cimento armado que ergue as casas ou entre as poucas árvores que insistem em contrariar o egoísmo dos que cortam árvore, matando a biodiversidade, sufocando a humanidade e que certificam a incivilização do homem. Em seguida, o brilho revela-se cheio, exibindo Ogum e o seu dragão – haverá quem, de pronto, condene o herege dessa descrição! – mais reais que antes, tomando toda a forma de tão reluzente imagem. Por minutos, os olhos buscam o brilho e se destraem com a beleza que agora claramente se mostra por completo...