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UMA QUESTÃO DE ESTRATÉGIA

Aquele envelope sobre a mesa da recepção trazia o especial convite, era de encher os olhos pelo brilho, as cores, o formato, a intenção, o conteúdo. Quem o via ali tinha sensação degustativa, olfativa, tátil e sinestésica. Era inigualável!

O convite era especial, desejado e marcava um novo ciclo; havia expectativa, unilateralmente estava carregado de frases feitas, comuns, porém, pareciam aceitas e que logo seriam executadas.

Tudo transcorreu com normalidade, afinal, o convite chegou cedo, feito para uma coletividade numa demonstração de que todos eram iguais. E são iguais! Alguns tolos acham que não. Pura tolice! 

Ao abrir o envelope, retirar, observar e ler o convite a neo convidada sentiu-se parte, sentar-se-ia à mesa pela primeira vez em companhia dos amigos do rei.

Vivida a ansiedade da espera o grande momento chegou. Vestiu-se de sua confiança no outro, ornou-se de alegria e foi animada atender ao convite. 

A chegada ao local provocou incômodo para alguns, raiva para outros; para a convidada o sentimento foi de uma enorme surpresa. Todos estavam à mesa, o rei, no seu trono observava a tudo e a todos. 

Chamados à mesa, o prato servido era sopa cujo aroma e aparência enchiam-lhe a boca de água e os olhos de apetite – sim, o cérebro manda para os olhos a sensação de querer comer. 

A neo convidada sentou-se, soltou o lenço-guardanapo, aproximou o prato de si e comeu com os olhos a primeira porção da especiaria oferecida, virou-se suavemente, pegou o talher que fora posto ao lado do prato envolto em papel manteiga e, desembrulhando as peças em material nobre, foi sentindo uma sensação estranha, parecia não acreditar no que se desenrolava, revelando-se a olhos nus. 

Ainda que sem acreditar, olhou para os seus pares à mesa e viu que todos haviam desenrolado os seus talheres e já se serviam da sopa, naturalmente. Voltou o olhar para si, para o prato de sopa à sua frente e o talher em suas mãos, constatando que lhe haviam preparado uma peça deixando a sua disposição um talher para peixes. 

Embora parecesse confusa, silenciou por alguns instantes enquanto os presentes degustavam a sopa, trocavam informações e olhavam-na desolada. No raio de lucidez, pensou consigo e reverberou:

_A vida é um aprendizado, hoje, por exemplo, pode-se aprender que para se tomar sopa com talher de peixes basta colocar as torradas dentro da sopa e ao engrossar a canja torna-se possível levar a pasta à boca. 

Todos a olharam com atenção, porém, nenhum gestou ou palavra foi esboçado. Todos calam quando a tentativa (...) não se concretiza.



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