Bartolomeu dos Santos Costa
Gilberto de Mello Freyre, foi um sociólogo, historiador e ensaísta e político brasileiro, que nasceu no dia 15 de março de 1900, no Recife, Pernambuco. Filho do professor Alfredo Freyre e de Francisca de Mello Freyre. Teve como professor particular o inglês Williams. Aprendeu latim e português como pai. Estudou no Colégio Americano Batista, no Recife, onde se bacharelou em Letras, sendo o orador da turma.
Aos 17 anos, Gilberto Freire foi para os Estados Unidos como bolsista, fixando-se no Texas, onde estudou Artes Liberais, com especialização em Ciências Políticas e Sociais na Universidade de Baylor.
Gilberto Freyre fez sua pós-graduação, na Universidade de Colúmbia, Nova Iorque, obtendo o grau de Mestre em Artes. Sua dissertação de mestrado versou sobre a "Vida Social no Brasil em Meados do século XIX", orientado pelo antropólogo Franz Boas, radicado nos Estados Unidos, de quem recebeu grande influência intelectual.
Autor de Casa Grande & Senzala, considerado um clássico do pensamento social Brasileiro, sendo assim uma das obras mais representativa sobre a formação da sociedade brasileira, recebeu o Prêmio Internacional La Madonnina, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, o Grã-cruz de Santiago de Compostela, entre outros. Freyre morre em 18 de julho de 1987 na mesma cidade em que nasceu, Recife.
Freyre, nesse texto, utilizando-se da historicidade e da comparação da colonização do Brasil com outras colonizações, como a inglesa e a espanhola, analisa os principais fatores que viabilizaram a instalação da colônia de Portugal nas terras brasileiras. Faz ainda comparações entre Portugal e outros países da Europa, bem como entre regiões do Brasil. Tendo sido muito influenciado por Franz Boas, seu orientador na dissertação de mestrado, Freyre não segue sistematicamente nenhum modelo teórico.
O autor aponta as características portuguesas que tornaram possível a instalação da colônia portuguesa aqui no Brasil. Freyre começa o desenvolvimento do capítulo a partir dessa ideia de possibilidades de instalação da colônia a partir de algumas peculiaridades portuguesa.
Para o autor, os contatos dos portugueses com os mouros na Idade Média, seja cultural ou sexual, foram essenciais para a realização da colonização portuguesa. Pois,
A singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África. Nem intransigentemente de uma nem de outra, mas das duas. A influência africana fervendo sob a européia e dando um acre requeime à vida sexual, à alimentação, à religião; o sangue mouro ou negro correndo por uma grande população brancarana quando não predominando em regiões ainda hoje de gente escura [...]. (FREYRE, 2003, p. 66).
Outro ponto importante do texto é a exposição que o autor faz sobre o encontro do português com o clima tropical, com a “nova terra”, bem com outros povos. Para o autor, os portugueses em comparação com outros povos europeus levaram vantagem na adaptação em terras com o clima tropical. Isso porque, o clima das terras portuguesas era semelhante ao clima africano, e o clima desse último assemelhava-se ao clima das terras brasileiras. Por outro lado, os portugueses tiveram significativa dificuldade com a terra por conta das irregularidades dos rios, das pragas, entre outras.
Tudo era aqui desequilíbrio. Grandes excessos e grandes e grandes deficiências, as da nova terra. O solo, excetuadas as manchas da terra preta ou roxa, de excepcional fertilidade, estava longe de ser o bom de se plantar nele tudo o que se quisesse, do entusiasmo do primeiro cronista. Em grande parte rebelde à disciplina agrícola. Áspero, intratável, impermeável. Os rios, outros inimigos da regularidade do esforço agrícola e da estabilidade da vida de família. Enchentes mortíferas e secas esterilizantes – tal o regime de suas águas. E pelas terras e matagais de tão difícil cultura como pelos rios quase impossíveis de ser aproveitados economicamente na lavoura, na indústria ou no transporte regular de produtos agrícolas – viveiros de larvas, multidões de insetos e de vermes nocivos ao homem. (FREYRE, 2003, p. 77).
Sobre a relação dos portugueses com os indígenas que aqui já habitavam, os portugueses formaram um hibridismo, sobretudo pela forma natural (nu) de estarem dos indígenas, comum entre eles. Isso era visto pelos portugueses, sobretudo os homens, como uma forma de excitação sexual. O interessante nesse ponto é que, os portugueses que se achavam civilizados eram quem se exaltavam sexualmente com as indígenas nuas a ponto de estuprá-las.
As palavras de Freyre denotam essa excitação sexual por parte dos europeus em relação à indígenas.
O longo contato com os sarracenos deixara idealizada entre os portugueses a figura da moura-encantada, do tipo delicioso de mulher morena e de olhos pretos, envolta em misticismo sexual – sempre de encarnado, sempre penteando os cabelos ou banhando-se nos rios ou nas águas das fontes mal-assombradas – que os colonizadores vieram encontrar parecido, quase igual, entre as índias nuas e de cabelos soltos do Brasil [...] tanto quanto as nereidas mouriscas, eram doidas por um banho de rio onde se refrescasse sua ardente nudez [...]. (FREYRE, 2003, p. 71).
A constituição da família patriarcal é outro ponto importante do texto a se destacar. Para Freyre, a família contribuiu significativamente na colonização, uma vez que se torna uma instituição importante a ponto de ser antagônica à igreja em determinado momento, em relação à Companhia de Jesus. Nesse sentido, a família patriarcal, escravista e aristocrática que dita as regras, ou seja, tudo gira em torno desse tipo de família.
Além de muitos outros elementos, como a sífilis, por exemplo, causado pelo hibridismo/miscigenação, Freyre destaca também, no texto, uma das principais discussões feitas pelo autor a ser destacada, a saber, da escravidão. Para o autor, a escravidão que aconteceu no Brasil foi uma escravidão branda, que escravo e senhor tinham uma relação cordial, que o negro escravizado “era bem alimentado”.
Em suma, o capítulo, traz várias temáticas, aspectos e elementos que constituem a formação do Brasil e que são discutidas ainda nos dias atuais, tais como raça, gênero, exploração do trabalho disfarçado de algo positivo, entre outros. Enfim, é uma exposição de vários antagonismos que caracterizam o Brasil desde sua colonização até os dias atuais.
O texto, apesar de em seu conteúdo tratar da colonização e formação do território e povo brasileiro, é o retrato do Brasil de hoje, um Brasil patriarcal, machista, racista, patrimonialista, que tem uma visão coisificada da mulher como quem serve somente para sexo e cozinha.
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