Hoje amanheci lembrando das músicas do Belchior e, me bateu uma saudade danada de gente minha, que ficou lá no sertão! Na primeira lembrança, a música dizia: " há tempo, muito tempo que estou longe de casa e nessa ilha cheia de distância, meu blusão de couro, se estragou"... E no cantinho do olho, a saudade se avivou em mim, em forma de lágrimas. Porém, outra música me fez saber, que lá sim, eu era feliz e, a música da vez, gritava em meu peito e me deixava um nó na garganta ao cantá-la: " quando eu não tinha o olhar lacrímoso, que hoje eu trago e tenho, quando adoçava o meu canto e meu pranto, no bagaço de cana de engenhos". E mais a frente, a música comprovava a minha dor: " eu era alegre, como um rio, um bicho, um bando de pardais... Como um galo, quando havia, quando havia noites, galos e quintais". Nem preciso continuar. Pois, eu já me encontro na "força negra"! E ela fez comigo "o que a força sempre faz". Não sou feliz... Mas, não sou mudo.
E enquanto eu ia vagando em minhas lembranças, outras músicas mais, se apresentavam, como fio de ouro de outras recordações. No meu quarto, um silêncio anacrônico se instalou e, apenas a música, permanecia em mim, como a me entorpecer. E ela veio mais uma vez majestosa... Sublime! "Se você vier me perguntar por onde andei, no tempo em que você sonhava. De braços abertos lhe direi; amigo eu me desesperava". De uma beleza estupenda, que chega a me emocionar profundamente e a lembrar de detalhes da minha própria vida e, que me fez cair na real e, "viver a divina comédia humana, onde nada é eterno"... A gente sem querer, aprende que "enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não..." Ainda há esperança.
E assim, Belchior entrou em mim, " como o sol no quintal". E eu fechei os olhos e me deixei levar numa viagem de sonhos, em muitos momentos já passados, mas, que por um segundo, voltaram a mim, com a mesma vontade de realizá-los.
Derepente, a vizinha liga o rádio, num volume ensurdecedor e me arrancar de meus devaneios. E tudo o que ouço é: "que tiro foi esse?" Meu Deus! Matou o Belchior em mim! Ele se recusou a voltar.
Fiquei sabendo mais tarde, se tratar de uma nova música da "JoJo Todinho", sem a nostalgia do sertão, sem as delícias dos versos livres. A "JoJo Todinho", estragou os meus devaneios e me fez pensar, que uma pessoa que carrega um nome desse, ou está fazendo propaganda para a Nestlé, ou nasceu de um Kinder ovo.
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Fernando Cavalcante - poeta, cronista, contista, escritor.
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