DUBET, François. A igualdade meritocrática das
oportunidades. In: DEBET, François. O que é uma escola justa?: a escola
das oportunidades. Trad. Ione Ribeiro Vale. Rev. Tec. Maria Tereza de Queiróz
Piacentini. São Paulo: Cortez, 2008.
Bartolomeu dos Santos Costa[1]
François Dubet é Sociólogo,
professor, coordenador e orientador de pesquisas na Université Bordeaux II e na
École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) de Paris, França.
Pesquisador do Centre d’Analyse et d’Intervention Sociologiques (CADIS/EHESS),
desenvolveu relevantes pesquisas no campo da sociologia. Dubet é autor e
organizador de diversos trabalhos, dentre os quis, destacam-se estudos sobre
questões relativas à Educação, movimentos sociais e, recentemente, sobre
estigmas e discriminações.
A partir de suas pesquisas,
cunhou a noção teórica de “Sociologia da Experiência”, tema que resultou no
livro Sociologie de l’expérience (1994), publicado também no Brasil
posteriormente.
Outros trabalhos de destaques
do pesquisador, são: La galère: jeunes en survie (1987), obra na qual Dubet
realiza uma análise da experiência e das condutas de jovens de periferias da
França e, ao mesmo tempo, do sistema social e suas mudanças a partir da crise
de um modelo de sociedade industrial; Les Lycéens (1991), A l’école: sociologie
de l’expérience scolaire (1996), L’hipocrisie scolaire (2000), e L’école des
chances: q’est-ce qu’une école juste? (2004), foram algumas produções que
evidenciaram a temática da experiência escolar; em Le travail des sociétés
(2009), apresenta uma reflexão teórica na qual retoma e aprofunda algumas
questões apresentadas em Sociologie de l’expérience (1994), destacando as
noções de sociedade, coesão e integração social, experiência e dominação.[2]
Nesse primeiro capítulo do
livro, o qual será resenhado aqui, Dubet busca uma articulação entre princípios
de justiça e desigualdade, bem como seu engendramento no ambiente escolar. Dubet
busca ainda, demonstrar a relação entre a formação das sociedades modernas
democráticas, o princípio de igualdade de oportunidade e a exaltação do mérito.
Isso possibilita “conciliar dois princípios fundamentais:
de um lado, o da igualdade
entre os indivíduos; do outro, o da divisão do trabalho necessário a todas
as sociedades modernas”.
(DUBET, 2008, p. 19).
Nesse sentido, a igualdade de
oportunidades desenha uma perspectiva de escola mais justa, uma vez que as
desigualdades supõem transparecer a capacidade individual e a competência dos
alunos. Desse modo se faz necessário um esforço para a criação de escolas mais
justas e igualitárias, que promovam igualdade de oportunidades.
Assim, o autor demonstra o
modelo de escola francesa e destaca as mudanças do elitismo republicano à
igualdade de oportunidade, apontando como referência o plano langevin-Wallon. Para Dubet,
esse foi o período em que inicia na França a constituição de um modelo de
escola no qual só o mérito e o “dom” e/ou esforço individual justificariam
desigualdades escolares, ou seja, “uma sociedade na qual as desigualdades procedam
unicamente do mérito
e das performances pessoais”. (DUBET, 2008,
p. 24). Isso, a saber, a mudança radical no sistema educacional francês, trouxe
acesso a uma significativa democratização da educação e acesso a mais pessoas. Mas,
por outro lado, trouxe à tona os obstáculos e dificuldades para a igualdade de oportunidades.
Desse modo,
há uma contradição em que todos os alunos e alunas são considerados iguais,
entretanto, aquele que não conseguir ascender é tido como o responsável pelo
seu fracasso sem se considerar suas condições socioeconômicas e como se o
indivíduo tivesse fracassado por escolha própria. Nesse sentido, o autor tenta
elucidar as contradições do mérito, para ele, “não se pode ignorar que as provações do mérito, mesmo
justas, são de uma grande crueldade para os que
fracassam, principalmente quando esse fracasso
é necessário ao funcionamento do mérito e da igualdade das oportunidades [...]”.
(DUBET, 2008, p. 47).
Não só o
primeiro capítulo, mas toda a obra é fundamental para o debate sobre o mito da “meritocracia”
no Brasil. A ideia de meritocracia na educação é falsa, pois não há igualdades de
oportunidades, ou seja, nem todos tem acesso à educação escolar, e os que tem,
usando Bourdieu, nem todos tem “Capital cultural” igual,
consequentemente, nem todos conseguem ascender. Entretanto, a questão vai mais
além. Usando Bourdieu novamente, a contradição na ideia de neutralidade escolar
é gritante, uma vez que essa reproduz dissimuladamente as desigualdades
sociais.
É inculcado na cabeça dos indivíduos pelo discurso meritocrático que eles são responsáveis pela “falta de sucesso” no mercado, pois, o neoliberalismo quer fazer crer, que tudo se trata da falta de capacidade individual, e não de questões sociais e políticas, como se na corrida da vida todos e todas partissem do mesmo ponto de largada. As dificuldades são tanto maiores, quanto o é a pobreza e falta de oportunidades, que são como pesos que algumas e alguns corredores devem carregar, dificultando seu desempenho.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Lean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Tradução de Reynaldo Bairão. 6. Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2013.
_______. Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 1998.
_______. Capital Cultural, Escuela y Espacio Social. México: Siglo Veinteuno, 1997.
_______. O campo econômico: a dimensão simbólica da dominação. Campinas: Papirus, 2000.
DEBET, François. A igualdade meritocrática das oportunidades. In: DEBET, François. O que é uma escola justa?: a escola das oportunidades. Trad. Ione Ribeiro Vale. Rev. Tec. Maria Tereza de Queiróz Piacentini. São Paulo: Cortez, 2008.
[1]Universidade Federal Do Maranhão – UFMA - Bacabal. E-mail: tstbartolomeu@gmail.com.
[2]Texto/informações disponíveis em: https://www.skoob.com.br/autor/27391-francois-dubet.
Acesso em: 16 de dez. de 2022.
Comentários
Postar um comentário